"soooooooooooora, eu te vi saindo da farmácia!!!"
ah, na terça, né?
"é. eu passei com meu pai e tu nem me viu. Tu tava bem na porta da farmácia."
sei, aquela ali antes da tabacaria?
"é. acho que tu ia pegar o ônibus."
sim, tem uma parada bem na frente. Dá próxima, grita um oi.
"tá, mas sora, tu tava na farmácia fazendo o quê?"
ai, nem lembro, acho que fui só me pesar mesmo."
"é? só isso? sora, tu tá doente??"
ah, não, quer dizer, não que eu saiba, me sinto tri bem.
"mas é que sempre que meu pai vai na farmácia é pra pegar os remédios da minha vó que tá morrendo do coração, ela já nem sai de casa."
ah, sim, mas na farmácia a gente vai por vários motivos, as vezes só para comprar uma lixa de unha.
Pensa, me olha, segue me olhando.
"é, mas se tu tá mal, não adianta tomar remédio por conta, meu tio quase morreu por isso."
é, não dá pra se automedicar assim, todo remédio é um veneno também.
"é veneno também? bah, é por isso que eu cuspo sempre que me dão remédio."
tá, mas depende do quanto tu usa, as vezes precisa mesmo, mas só quando nada mais funciona.
"é. sabe aquele livro de chás que a gente vez?? meu pai não acredita nisso, ele disse que é bobagem."
puxa, mas quem sabe tu começa a fazer uns chazinhos gelados só pra ele pegar o gosto??
Pensa, me olha, segue me olhando.
"minha avó vai morrer logo."
e ela toma um monte de remédio, né? e aposto que ela sabe muuitos chás bons, do tempo que ela era mais nova.
A profe da capoeira chama, vai começar a roda, ele sai, decerto decidido a refrescar o verão com chás, ou quem sabe a prolongar a vida da avó.
Pra todos viveram mais.Por uma vida com menos remédio.
hoje um dos meninos que buscou teto para a profe aqui e eu nos encontramos na biblioteca, ele todo atrapalhado com uma prova de interpretação textual. O texto mal xerocado, extraído do trecho do fim do capítulo de um livro perdido na internet... Sentei ao seu lado, pedi que lesse, as sílabas saiam como pedras da boca. Li eu. Li de novo, Comentamos. Tentamos encontrar na internet a autoria. Li de novo. Interpretamos oralmente. Depois, a escrita, devagar, marcamos outro encontro para ver questões da gramatica e leitura. Quem se move para buscar moradia para o outro, merece ler o mundo por conta!