quarta-feira, 30 de abril de 2014

sua Negra, Minha Negritude

(mãe que levantou cedo e nem deve ter dormindo a noite planejando o momento que fosse pegar esta professora louca na entrada!!): "a fulana disse que em casa que a sora disse que não precisava chorar que negro não é ofensa, mas a senhora não tá vendo que ela é morena clara?? " 

na manhã seguinte após um menino ter chamado a colega de "oh negra". E, em vez te tê-lo repreendido, conversei com os dois, que se ela não gostava, ele não iria mais chamar, né fulano? Mas, fulana, olha em volta, ser negro não é ofensa, ia se ruim por quê? (silencio, silencio, silencio)
tantos negros, tantas pessoas com parentes negros, na minha tem, eu me sinto negra, talvez tu também tenha negros na família, e tu também fulano, que acham de perguntarem para seus pais isso hoje?? Amanhã me contem e eu conto da minha família, combinado?? Combinado!"

Morena clara, amarela, escura, morena-rosa, manga-rosa, affff! E é possível que esta família receba negrs em casa, lhes ofereçam mate, e talvez esta criança tenha amigs negrs, talvez ela cresça e namore negrs, mas.... Nunca ouse chama-lá, a ela e a seus familiares de negrs!! 

fica bem difícil avançar na discussão quando ainda somos barrados pela matiz de tonalidades. Quando esta matiz nos coloca numa posição de mais ou menos negrs. Toma lá naquele lugar quem me vier com esta de querer encontrar a definição que melhor represente a sua leve negritude. 

Zero 0

e depois de tudo que havia na caixa der distribuído, a representação final é zero. Vamos lá, 0, e o nome? Zero. 
A ficha de um menino seguia em branco. "tu esqueceu do nome do 0, completa ai"
nada. nada. Erik olha para mim, olha para a ficha e segue sem preencher.
Erik.... Cansou a mão, é?
"nãao, sora, quero deixar assim, Se é zero, nem nome vai ter!"

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Peixe em dezenas

Peixe no rio! Em grupos, tempo, desenha peixe, passa! tempo, desenha peixes, passa! tempo, desenha peixe, passa! tempo, desenha peixe, passa! Deeu! Tira o lápis, vamos passar a rede... de dez em dez, isso, quantas dezenas? e quantas unidades de peixes ficaram de fora? 
Após a 3ª rodada, um dos grupos passou a organizar os peixinhos um ao lado do outro, facilitando a pesca depois.... 
Membros de um outro grupo que se ocuparam em caprichar no cenário da pesca: rio azul, peixes em detalhes, se manisfestam: 
"ahhh, onde já se viu, peixe nem anda em fila, soooora!!!"
"é!! Olha só o nosso, tem um monte aqui nessa parte azul ..."
Aiaiaiai, os segredos do fundo do rio, só filho de pescador sabe!

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Letra corvina

Coisa que gosto de ensinar é a Letra Cursiva!
Unidas em comunidades chamadas Palavras,
mandalas lidas em oração!
A letra ganha aquela gordurinha e fica gostoso deslizar o lápis nela,
O segredo, manter o lápis no papel: pontos, traços, acentos, til retocam no final

Sobe o morro, desce o morro!
Um laço e pescoço pro lado!
Sobe o morro até a metade!
Soobe o morro, levanta uma antena e desce por ela!
Laço pra cima, laço pra baixo, gravatinha no meio!
Sobe o morro, desce, faz o a, laço pra baixo!
(...)
Than, than, than! 3 thans!
E agora? Só 2 thans... than, than!
E esta? Junção do 1 e do 2, vejam só!

Hoje foi o dia d, digo, o dia C!
A começar pelo nome oficial: Cursiva, Emendada é o apelido porque, ora, porque ela tá emendada!
"Corvina??? Corvina é um peixe, sooooooooora!!"

Ah! E nos momentos de desgaste e tensão em que tendo a mudar a rota, vem uma letra Corvina e nadando mergulha no meu peito!

quinta-feira, 24 de abril de 2014

de coração a coração

"oh sora, as vezes eu acho que tu diz que não pode só por que elas lá de baixo dizem que não pode"
elas la de baixo=diretoria, administração
 
Quando um coração se comunica com outro, as palavras não convencem.

Das dores

Hoje, enfim, entendi por que minha coluna tem doído tanto. é nela que se deposita a energia das crianças (e a minha!) contidas entre 4 paredes. corpo castrado, mente estafada. Turbilhão de vontades de aprender de verdade, turbilhão de vontade de ensinar de verdade. Bem entendo quando vocês se agitam e brigam, pedem para ir beber água, mas a água não dá conta desta sede. Entendo tudo, somos cúmplices deste mal-estar. Nos limites da sala e das obrigações das linhas do caderno não cabe tudo que vocês (e eu!) precisam. As linhas do caderno olham para mim e gritam por preenchimento. Daqui de dentro a vontade de jogar todos os cadernos fora. Mas ainda não posso. Há guardas nas lixeiras, e há guardas que querem impedir a entrada dos pedacinhos de mundo que carrego disfarçadamente na mochila.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Divisão dos açucares

Chega a quarta-feira. Meus pequenos se saíram muito bem com o microfone: desinibidos, texto na ponta da língua, voz nítida. O coração e a mochila da profe enchendo: ele de ternura e ela com as guloseimas ganhas, estes veículos da droga açúcar, que corroem nossa saúde começando pelos dentes... Certamente o Coelho não seria dentuço!
A discussão acerca da alimentação geralmente é deixada em último plano nas escolas, ainda mais em comunidades carentes, onde presentar as crianças com o que  a elas é pouco acessíveis (o lixo do sistema) é tido como bondade. Ora, se diariamente se proíbe certos alimentos prejudiciais, mas em dias de festa os doces e toda a sorte de porcarias são permitidos, o que se pode entender? Que as porcarias na verdade são boas e devem ser reservadas às celebrações! Bom, esta é uma batalha que não tenho forças para assumir agora, ainda mais sendo uma das viciadas nesta droga branca. Para aproveitar a situação, aceitei os presentes como manifestação de carinho e compartilhei a montanha de açúcar entre todos: balas de goma, pipoquinhas, bombons e barra de chocolate.

Seguem fotos da divisão de UMA BARRA de chocolate entre os 17 presentes hoje:


De uma barra, cada um recebeu um tablete e sobraram 5 + 2= 7


A solução: dividir pela metade os 7 tabletes e conseguir.... 14! Ora, somos em 17, vai faltar... Mas a sora tem oooutra barra na bolsa...

 



Desta barra, pegamos 2 tabletes e dividimos ao meio: suprimos a quantidade e ainda sobrou um meio tabletinho que a sora comeu, além do resto, guardado para outro dia.

E se o Coelho da Páscoa se aposentasse?

Decidi não sofrer com as datas comemorativas este ano: se constam no planejamento da Escola, não há o que possa mudar sozinha, então penso em maneiras de desenvolver um trabalho o menos consumista possível, de preferencia dissociado dos presentes materiais e da religiosidade direcionada. 
Chega o mês da Páscoa.
"Marília, qual vai ser a tua apresentação? Precisa de som? cd? Não? Que tal trabalhar os símbolos? A música da cenoura?? Não? Quando tu souber nos avisa."
Semelhante a isso acontece e acontecerá nas próximas: em maio, agosto, setembro, outubro, dezembro...
Terça-feira, véspera das apresentações. Uma conversa sobre a idade de vida dos animais me fez ter um lampejo: E no dia em que o Coelho da Páscoa quiser se aposentar? Quem poderá ficar em seu lugar??

Dedos em pé, sugestões não justificadas, ditas na pressa de falar alguma coisa, descartadas.
Após meia hora de suada discussão, escolhemos no coletivo estes animais:
.

FILHOTE DO COELHO: POR QUE ELE PODE APRENDER COM O PAI

CANGURU: POR QUE ELE PULA MAIS ALTO E PODE LEVAR OS OVOS NA BOLSA

CACHORRO: POR QUE ELE É ALEGRE E CORRE COM O DONO

TODOS JUNTOS SOMO FORTES, SOMOS FLECHA E SOMOS ARCO



O URSO (POR QUE ELE É FORTE E FOFINHO E OS OVOS NÃO IAM QUEBRAR) foi o primeiro grupo a concluir a pintura, por isso não consegui registrar o momento em que trabalhavam.



 

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Rabo do coelho

 
Pequenas mãos confeccionando rabinhos para seus coelhos. Já desenvolvem a motricidade fina, usando as habilidades necessárias para manusear lã entre os dedos: Pompom que virou rabo! Além de estimular a solidariedade e espirito de cooperação, pois precisaram pedir auxilio para seus colegs, no passar o laço e amarrar, cortar, tirar dos dedos. 
 
 





terça-feira, 8 de abril de 2014

da crueldade

Depois de fazer massa de tapioca e provar os dotes nada culinários da sora, fomos brincar de amassar com massa de modelar! O desafio era intervir no seu corpo, inventando algum adereço!

Seguem algumas imagens....






Lúcio escolhe a massinha de modelar vermelha e depois chora pela amarela.
Já foi tua vez, espera os demais escolherem as suas para trocar.
Erik, o próximo, pega a amarela sem pestanejar, e arranca lágrimas do colega.... :"Me dá, me dáaaa, seu MEEEERRRRDA!!"
"Eu escolhi pra trocar com ele, sora, mas agora não vou mais!"
Se não estivesse no papel de professora, diria:
Agora, modela a merda, Lúcio... :p



segunda-feira, 7 de abril de 2014

Tapioca: cheira, amassa e prova

Provando a Tapioca feita pela mãe da Maria Luiza
 
Apalpando o pacote de Polvilho doce
 
Provando que polvilho na roupa sai sim...
 
Mão na massa...



massa no chão...


quase uma tapioca...

 

sábado, 5 de abril de 2014

Uma casa engraçada

Inventei uma história em que um rapaz pedala pelo mundo em busca de novos entardeceres... Hoje, após, dias de espera, ele, enfim, chega na escola! Pe-da-lan-do! Uaaaaaauu! Outros meios de transportes são possíveis, bici não é só lazer!
Além disso, ainda mora numa Casa Muito Engraçada, que tem teto, chão, parede e coletivo em formação! E é feita com muita luta, na Caldas Júnior, número 11! Desculpe, Vinícios de Moraes, mas a rua não é a dos bobos!

Erik, 8 anos, capta bem o espirito da casa e quando o rapaz conta que mora no piso tal, retruca: "não, tu mora em todo prédio!!" Isso ai, Erik, e quem sabe um dia possamos nos reencontrar numa escola em que as paredes sejam meras divisões de espaços e em que as disciplinas se indisciplinem e se mesclem na busca pelo conhecimento e mundo novo! E que eu ainda esteja lúcida e com saúde para viver isso, amém!



terça-feira, 1 de abril de 2014

histórias que voamm


Era uma vez um rapaz que resolveu sair pelo Mundo de bicicleta em busca de novos entardeceres. Levava consigo algumas peças de roupa, comida, água, uma lanterna, livros e uma caixa onde ia coletando as histórias dos lugares por onde passava.  Roupa  longa e quente para o caso de frio, roupa leve e curta para caso de calor. Comida suficiente para repor energia, água para quando não houvessem lagos nem rios onde parar. Lanterna para iluminar os caminhos, livros para outras viagens dar.
Tanto andou, tanta gente encontrou, amigos fez, aventuras viveu e muitos entardeceres presenciou. Um diferente do outro: nem mais nem menos bonito, apenas diferentes. Em alguns dias, estava mais alegre, disposto a sorrir; Noutros, as pernas doíam de cansaço, até pareciam que saiam do peito. Das histórias que juntou, misturou todas na caixa (ora, que coisa, histórias misturadas conversam umas com as outras e reproduzem mais historinhas, de modo que o espaço foi ficando pequeno).
Num dado momento do percurso, a tampa se abriu e... As Histórias saíram... Voannndo! Eram aladas, isso nem o rapaz sabia, e se foram buscando olhos e corações para serem lidas! Distraído que estava, só notou o que acontecia quando se aproximava de casa. Olhou por cima dos ombros e viu a cena mais incrível de tudo que já havia visto: as folhas de papel se dobravam como pássaros de origami e subiam ao céus. Abriu a boca, quis chama-las de volta: " ei, entrem na caixa, estamos quase chegando", mas se calou diante de tanta beleza! Soube depois, que  uma vez que as histórias escolhem corações, já não há o que fazer. 
E hoje, a cada entardecer, o rapaz reescreve em desenhos de pássaros as aventuras que viveu. Não guarda mais, deixa-os livres na natureza para que se reproduzam (uma graça são os filhotes de pássaros-historinhas) e habitem o nosso coração.

Alfabetização geográfica

E o menino que pedalava pelo Mundo em busca de novos entardeceres rendeu estudos sobre formas geométricas, contagens com números maiores de 20, meios de transporte, noções espaciais  e mapas! Abaixo, registro de atividades feitas com fins de desenvolver a noção de que podemos representar pessoas, objetos e lugares através de seus contornos.
As noções espaciais, a lateralidade, domínio dos termos ( antes, depois, frente, atrás, longe, perto, em cima, embaixo, direita, esquerda) são habilidades básicas a serem desenvolvidas antes do ensino cartográfico ser sistematizado. É comum nesta faixa etária, que professores se foquem na alfabetização do sistema de leitura-escrita (importantíssimo e fundamental para o êxito de tudo mais), em detrimento das outras faculdades necessárias para uma ampla leitura de mundo.
O brincar, livremente e direcionado, além da socialização, ajuda no desenvolvimento da noção de espaço e tempo (sequencia de fatos, tamanho que seu corpo ocupa, continuidade, ordem e sucessão...), e o desenho vem como forma de registrar a leitura do espaço vivenciado. É possível acompanhar uma parte do desenvolvimento através dos desenhos infantis. A faixa estaria com a qual trabalho, 7 a 11 anos,  desenha como sabe, e o que não sabe, imagina e toma como verdade, principalmente no plano deitado.


Abaixo, registros de algumas das últimas atividades da semana anterior: nas duas primeiras, o desafio era identificar contorno-objeto. Depois, fizeram eles mesmos contornos com outros objetos além de seus corpos, conforme mostra a terceira imagem

É esta!



Ferramentas no centro e olhares atentos!


Contornos do corpo

O peso do cabelo

Munidos de trena, régua e fita métrica, passamos a primeira parte da manhã medindo objetos e pessoas: da largura da porta a... maior bunda da turma, que, obviamente, não é a minha, rsrrsr
"a cabeça maior deve ser a da sooora!!"
"ah, mas não vale contar o cabelo!!"
"soora, o teu cabelo pesa muito??"
não... mas deve pesar mais que o teu, que é curtinho.
"corta ele e pesa, sora!!"
se um dia quiser te...r um visual careca, juro que peso tudinho e conto pra vocês.
"fica careca logo, sora, fica, fica, fica, fica, sim, sim, sim, siiiiiiiiiiiiim!!"

tá chegando o inverno e o cabelo aquece a cabecinha.

baixinho, Eder cochicha pra Manuela: "credo, a sora careca deve ficar muito esquisita, tomara que ela nunca faça isso..."

Bom saber, Eder!

do mesmo tamanho!
Espicha mais!

Levanta a cabeça, sora